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Você já ouviu falar da sarcopenia? Trata-se de um processo que provoca perda de massa muscular e de força, debilitando os membros e tornando os idosos mais frágeis e com dificuldades de locomoção. Um estudo de 2017 da Unifesp – Universidade Federal de São Paulo, em parceria com o laboratório Aspen, mostrou que 79% dos brasileiros não consegue perceber a perda de massa muscular com o passar dos anos. 

Este cenário pode ser agravado com o crescimento da população brasileira acima da faixa dos 50 anos. Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Brasil possui mais de 36 milhões de pessoas com idade entre 50 e 79 anos. De acordo com a entidade, em 2030, o número absoluto e percentual de brasileiros com idade acima de 60 anos deve superar o de crianças até 14 anos. 

Neste contexto, a necessidade de se levar uma vida ativa vem ganhando importância. “A sarcopenia não é uma doença,  mas uma consequência natural do processo de envelhecimento, que pode perfeitamente ser evitado”, explica a Dra. Alessandra Paula Nunes, nutricionista especialista em nutrição clínica e mestre em cardiologia. 

Ela explica que este é um quadro degenerativo que acarreta a diminuição progressiva das fibras musculares, cujas principais causas são alterações das proteínas musculares, degeneração da contração muscular causada por alteração do comando nervoso, diminuição das taxas dos hormônios anabolizantes, ingestão inadequada de proteínas, uso de medicamentos, inatividade física e imobilização (por hospitalização ou falta de mobilidade). “Após os 40 anos, temos uma perda natural de 0.5% de massa muscular ao ano, passando a cerca de 1% a partir dos 65 anos. No começo este processo passa despercebido, mas depois passa a afetar tarefas rotineiras, como andar, subir e descer escadas, deitar e levantar”. 

Este quadro afeta diretamente a qualidade de vida das pessoas. Para o Dr. Carlos Werutsky, médico nutrólogo e do esporte, além dos custos diretos da sarcopenia, o prejuízo funcional é grande, uma vez que a condição reduz a produtividade e a autonomia dos indivíduos. “Um estudo com quase 5.000 idosos de ambos os sexos, de várias regiões do Brasil identificou uma prevalência de 22% de sarcopenia. A doença causa processos dolorosos crônicos, doenças físicas e psíquicas.  Como consequências, temos a aceleração do envelhecimento”.

 

Diagnóstico e tratamento

Para se chegar a um diagnóstico de sarcopenia, é avaliada a força de preensão manual (dinamômetro), e/ou testes de desempenho muscular com avaliação do equilíbrio, caminhada e da força motora para sentar e levantar, além da massa muscular apendicular (dos membros superiores e inferiores). Também são utilizados exames clínicos como a tomografia, a ressonância magnética, dexa e a bioimpedânciometria.

O tratamento inclui exercícios físicos, que devem ser sempre acompanhados por profissionais especializados. Outro ponto importante é a alimentação. “O aumento da oferta proteica na dieta deve sempre acompanhar o aumento da atividade física. Com o passar dos anos, sugere-se que o perfil da dieta dos indivíduos mais velhos seja alterado, com redução de carboidratos (priorizando-se os carboidratos integrais) e aumentando a oferta de proteínas. É importante neste caso uma avaliação minuciosa da função renal, que deve ser feita por nefrologista”, explica Alessandra. “Em alguns casos, a terapia de reposição hormonal (TRH) tem sido indicada”, acrescenta.

 

Prevenção

A suplementação alimentar é uma questão importante para prevenir o processo de sarcopenia. Pesquisas mostram que o uso de proteína do soro do leite (Whey Protein) logo após, ou durante os exercícios resistidos, resultam em aumento da massa muscular esquelética (MME), principalmente os de rápida absorção, como os hidrolisados. “Como a janela anabólica em idosos é maior que em indivíduos jovens, pode-se ofertar proteínas de diferentes taxas de absorção e cicladas ao longo do dia. 

Foi observado maior ganho de MME com a ingestão de proteína do soro de leite (PSL) do que com a caseína, principalmente quando ingerida em repouso e no pós treino. Isso se deve provavelmente, a maior concentração de leucina na PSL. Porém, tanto a PSL quanto a caseína mostraram-se mais eficazes que a proteína da soja”, explica Alessandra.

Ela cita também a suplementação com creatina, que promove a elevação da fosfocreatina intramuscular. “Com o processo de envelhecimento e a inatividade, há menos creatina, e a suplementação em idosos, principalmente quando se associa à treinos resistidos, tem efeitos benéficos sobre força muscular, resistência à fadiga, e diminuição da perda mineral óssea. Com relação à massa magra, as pesquisas relatam que ocorre um ligeiro aumento. Para finalizar, a suplementação de cálcio e de vitamina D3 preserva a função e força musculares”. 

 

Luta pela vida

A acupunturista Ana Lotierzo, 49 anos, passou por uma experiência muito grave de sarcopenia em 2016 e a suplementação foi decisiva para salvar sua vida. “No mês de maio, eu tive uma perda de imunidade muito grande, junto descobriram que eu tinha uma doença autoimune, mas não conseguiam descobrir de qual sistema do organismo ela provinha. Automaticamente, comecei a emagrecer muito. Cheguei aos 47 kg e aí começou minha perda de massa muscular. Todos os especialistas faziam todos os exames para identificar, sem sucesso”, lembra.

Com a força muscular diminuída e a dificuldade de diagnóstico, Ana não tinha forças nos braços, suas pernas tremiam muito, não conseguia nem subir dois degraus e tinha caibras no corpo todo. “Minha nutricionista era a única pessoa que podia fazer algo naquele momento, eu estava ficando subnutrida, porque os médicos não poderiam me passar nenhum tipo de tratamento, pois não sabiam ainda o que estava exatamente acontecendo. Ela começou a administrar proteína, a whey protein e foi o que salvou a minha vida”, conta.

Ana tinha dificuldades para comer e todos os médicos especialistas que a acompanharam – eram sete ao mesmo tempo - disseram que só foi possível sobreviver por conta da suplementação. “A cada piora que eu tinha, minha nutricionista entrava com um novo suplemento. E aí minha condição física ia melhorando”. Meses mais tarde, veio o diagnóstico: tireoidite crônica de Hashimoto, que causa anemia, leocopenia e também sarcopenia.

Com a medicação, ela já se sente muito melhor, mas o tratamento ainda continua. “Tenho muito a agradecer à minha nutricionista”, finaliza.